A Igreja dentro do seu Contexto Histórico
As últimas cinco décadas do século XX foram caracterizadas por movimentos filosófico-teológico que romperam com tudo o que historicamente tem sido crido como verdade fundamental, da qual não se poderia abrir mão.
Em todas as épocas, e muito mais na atual, o homem vive a se gabar do seu grande conhecimento e de seus feitos tecnológicos. Todavia ele continua a regredir na verdadeira sabedoria, na retidão e moralidade, em virtude de uma vida sem Deus. Estamos vivendo no ápice da pós-modernidade.
2 Corintios 4.4
1. CARACTERÍSTICAS DA SOCIEDADE PÓS-MODERNA
O que é pós-modernidade? O termo é usado para identificar a fase posterior ao período chamado modernismo. Enquanto o modernismo se opõe ao passado e a estética tradicional, o pós-modernismo mescla o antigo com o novo. É eclético, pluralista e mistura tendências opostas.
a) Sociedade centrada no homem (humanismo).
O sentimento de autossuficiência, provocado pelas realizações humanas nos últimos tempos no que diz respeito à ciência, à cultura, à intelectualidade e aos demais elementos da pós-modernidade, exacerbou a crença do homem no próprio homem, e banalizou a crença em Deus. Na verdade, a atitude moderna enquadra-se perfeitamente na afirmação do filósofo grego Protágoras de abdera século V a.C. que disse: “O homem é a medida de todas as coisas”, a qual serve para representar de maneira exata o pensamento anticristão vigente em nossos dias conhecido como humanismo secular. De acordo com esse pensamento, é o homem e não Deus, o padrão final que julga e avalia os valores do bem e do mal, do certo e do errado, da lei, do belo da justiça etc...
b) Sociedade secularizada
A palavra secular designa aquilo que está em oposição ao que é eterno e espiritual. A secularização é o processo por meio do qual o que é espiritual deixa de ter valor para as pessoas. Numa sociedade secularizada, o sagrado perde a sua importância, o espiritual no sentido bíblico, torna-se obsoleto, fora de moda, quase rançoso. O que vale é a forma, e não a essência das coisas. Em 2 Co 4.4 diz: “o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que não lhes resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo”.
O que importa é a aparência e não a essência das coisas. É uma sociedade farisaica.
c) Sociedade centrada no relativismo.
Sob essa ótica não há lugar para os valores absolutos, isto é, os princípios imutáveis da Palavra de Deus, válidos para todas as pessoas, em qualquer época em todos os lugares. Não havendo um padrão normativo universal, abre-se um precedente para a desordem moral e social tão em voga atual. Cada um faz o que melhor parecer, o importante é ser “feliz”, a igreja e a religião passaram a ser artigos a mais no balcão de opções.
d) Sociedade consumista
O homem é reduzido a um mero consumidor de mercadorias, todos os seus anseios têm o referencial econômico, é o único valor da sociedade. Você vale pelo que tem é a cultura hedonista: come, bebe e folga, ver Lc 12.16-19 “e direi à minha alma: tens, descansa, come e folga”
A pós-modernidade tem atingido a igreja em diversos aspectos: penetrando em seu interior impondo modismos, desafiando a sua confissão de fé, a sua teologia e a sua escatologia.
2. ATITUDES DA IGREJA FRENTE OS DESAFIOS DA SOCIEDADE ATUAL
A igreja de Cristo foi chamada a ministrar à sua época, qualquer que seja ela. Se a nossa é exatamente essa de profundas mudanças e inquietações, não podemos nos assentar no banco do saudosismo e ficar suspirando pelos tempos idos.
Não somos chamados a ministrar a uma época remota, mas aos dias de hoje, cujo contexto acha-se sob a influência da pós-modernidade.
Precisamos dar ouvidos a recomendação que está em Rm 13.11,12 que diz “que é hora de despertarmos do sono, a noite é passada, e o dia é chegado. Rejeitemos, pois as obras das trevas e vistamo-nos das armas da luz”.
Imbuídos da visão do programa de Deus para o mundo, devemos reivindicar o novo contexto pós-moderno para Cristo, assumindo a fé cristã segundo critérios compreensíveis para a nova geração.
Temos, porém, a consciência que a igreja e mundo são coisas diferentes. Já dizia o filósofo dinamarquês Soren Kierkegaard: “No dia em que o cristianismo e o mundo tornarem-se amigos, o cristianismo deixará de existir” (citado por Russel Shedd em o Mundo, a Carne e o Diabo, p. 11 Vida Nova, São Paulo, 1991).
A pós-modernidade está aí. Ela é uma realidade. Negá-la seria apenas um ato infantil como também uma incoerência, uma vez que a história da igreja testemunha que os Cristãos verdadeiros nunca se furtaram de enfrentar desafios, fossem eles tribunais injustos, algozes, ou mesmo as heresias que sempre rondaram a igreja.
O mundo pós-moderno deve, portanto, ser enfrentado serenamente. Porém as armas desse enfrentamento devem estar baseadas na Palavra de Deus, pois somente ela contém a revelação da vontade de Deus ao homem.
O apóstolo Paulo recomendou Timóteo em II Tm 4.2 “pregues a palavra, instes a tempo e fora de tempo, redarguas repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina”. Se a igreja de fato quer ser a alternativa para este mundo pós-moderno precisa ensinar a Bíblia de forma sistemática, posicionar-se contra tudo aquilo que no seio da sociedade secular constitui violação à palavra de Deus.
Precisamos atuar de maneira estratégica perante o mundo, em Mt 5.13-16 Jesus disse: “Vós sois o sal da terra, vós sois a luz do mundo, resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas obras e glorifiquem a vosso pai que está nos céus”
Ser sal e luz consiste no delicado equilíbrio entre estarmos no mundo, sem fazermos parte dele. Significa participar da sociedade, sem ser por ela influenciado, influir em sua maneira de pensar, refletir nela a mente de Cristo, agir em seu meio como promotores do reino de Deus. Só assim poderemos preservar a sociedade da degeneração total com o nosso sal e iluminar as suas trevas com a nossa luz.
- Se a igreja quer ser a melhor opção para o homem pós-moderno, ela tem que voltar às suas origens históricas.
- Depender do poder do Espírito Santo, em Lc 24.49 Jesus disse: “ficai na cidade de Jerusalém, até que do alto sejais revestidos de poder”. At 1.8 “recebereis a virtude do Espírito Santo e ser-me-eis testemunhas....”. Jesus disse em João 15.5b “sem mim nada podereis fazer”.
- Retornar a prática da oração, em 2 Co 10. 4 diz que: “as armas da nossa milícia não são carnais, mas, sim poderosas em Deus para destruir as fortalezas”. A oração não é apenas um componente devocional de nosso culto. Ela é a arma de Deus, que nos capacita a vencermos os conflitos espirituais. Através dela as potestades do mal são vencidas, o poder de Deus é liberado e a vitória é alcançada.
- Pregando o Evangelho, Jesus ordenou “Ide e pregai o Evangelho” (Mc 16.15). Se a igreja da atualidade deseja influir, de fato, no mundo salgando-o e iluminando-o deve conscientizar-se de que não há outra maneira de fazê-lo, senão através da evangelização.
O evangelho é a resposta de Deus para os anseios desta geração. Em João 4. 13,14 Jesus disse: “quem beber desta água tornará a ter sede, mas aquele que beber da água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água a jorrar para a vida eterna”.
CONCLUSÃO
É necessário que retornemos a ter uma fé (crença) ortodoxa, viva e piedosa; uma fé que dê lugar ao intelecto e aos sentimentos; uma fé racional, mas não racionalista, com emoções, mas não emocionalista, uma fé baseada na verdade de Deus como revelada nas Santas Escrituras.